Cautela com o Pix parcelado: um alerta diante do endividamento crescente das famílias brasileiras

Matheus Freire

Nos últimos anos, o Pix transformou profundamente a forma como os brasileiros realizam pagamentos, trazendo agilidade e conveniência ao dia a dia. Agora, com a possibilidade de parcelar operações via Pix, essa ferramenta ganha novos contornos, e também novos riscos. Embora o recurso possa parecer vantajoso em um primeiro momento, é preciso cautela, principalmente em um país onde o endividamento das famílias já atinge níveis preocupantes.

De acordo com levantamento recente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mais de 78% das famílias brasileiras estão endividadas, e cerca de 30% têm dívidas em atraso. O uso excessivo do crédito e a dificuldade de planejamento financeiro são fatores que contribuem para esse cenário, somados à alta dos juros e à perda de poder de compra nos últimos anos.

É nesse contexto que o Pix parcelado surge como mais uma forma de crédito ao consumidor. No entanto, a facilidade pode se transformar em uma armadilha. Ao optar pelo parcelamento, o consumidor assume um compromisso financeiro futuro que, se não for bem planejado, pode comprometer sua renda e gerar inadimplência. Os riscos são semelhantes aos do uso do cartão de crédito e do cheque especial, que estão entre os principais vilões do endividamento no país.

Antes de aderir ao Pix parcelado, é fundamental que o consumidor avalie se suas receitas serão suficientes para quitar todas as pendências assumidas. Caso exista a possibilidade de pagamento à vista, é preferível negociar um desconto. Também é essencial estar atento às datas de débito, para evitar surpresas desagradáveis no orçamento.

Portanto, a modalidade é um avanço na estrutura e possibilidades do pix, mas recomendo cautela para quem vai adicionar mais esse recurso no orçamento familiar. Avaliar se a renda mensal basta para cobrir não apenas as parcelas futuras, mas também as despesas fixas, alimentação, moradia etc. Caso a pessoa não tenha certeza de que o recurso ficará disponível para pagar o Pix parcelado, ela não deve contratar. Os riscos são os mesmos de ficar inadimplente com o cartão de crédito ou cheque especial, podendo incorrer em juros altos e outras restrições financeiras. Além disso, taxas de juros, encargos por atraso e o fato de que parcela significa débito futuro no orçamento devem estar claros no momento da contratação.

Vale sempre lembrar ao consumidor que quando há disponibilidade para pagamento à vista, pode valer mais a pena negociar desconto. O crédito pode ser um aliado, mas só quando usado com responsabilidade. Em um momento em que tantas famílias lutam para equilibrar as contas, a educação financeira se torna indispensável. Mais do que facilitar o consumo imediato, é preciso pensar na sustentabilidade financeira no longo prazo.

Por Alisson Batista | Professor do curso de Ciências Contábeis da Estácio*.

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