COP30: o dilema do desenvolvimento e da sustentabilidade

Matheus Freire
Foto: Olho Nu Produções

A COP30 será realizada em solo brasileiro, um símbolo poderoso. O país com uma das maiores reservas naturais do planeta, dono de 12% da água doce mundial e de cerca de 60% da Amazônia, abrigará a conferência mais importante sobre o clima. Mas também será o palco de um dilema que nos define: como crescer sem se autodestruir.

O Brasil chega a Belém carregando uma contradição que nenhum discurso verde resolve. Como exigir sustentabilidade de um país que ainda luta para se desenvolver? E, pior, como cobrar um novo modelo sustentável de uma nação que sequer conseguiu prosperar plenamente com o antigo modelo, baseado em exploração e desperdício?

Enquanto nações ricas anunciam metas de neutralidade de carbono até 2050, 33 milhões de brasileiros ainda vivem em insegurança alimentar e mais de 70% dos municípios não têm coleta e tratamento de esgoto, segundo o IBGE. Falar em transição energética, economia circular e hidrogênio verde é importante, mas para quem ainda não universalizou o saneamento, é também um desafio de proporção desigual. O Brasil tenta equilibrar urgências distintas: garantir o básico e, ao mesmo tempo, responder a exigências ambientais que custam caro e exigem tecnologias que não dominamos.

O custo da sustentabilidade, no curto prazo, é alto. As energias solar e eólica já representam mais de 20% da matriz elétrica brasileira, de acordo com a Aneel, mas sua expansão depende de capital, tecnologia e cadeia industrial, três fatores concentrados no norte global. Enquanto isso, o desmatamento e os combustíveis fósseis seguem, infelizmente, como atalhos econômicos. Não é que o país não queira mudar é que mudar exige investimento, ciência e planejamento de longo prazo, três virtudes raras na política nacional.

O Relatório de Desenvolvimento Sustentável da ONU (2024) mostra que os países ricos emitem, em média, oito vezes mais carbono per capita do que as nações em desenvolvimento. Mesmo assim, são esses países os que mais pressionam o Sul Global por metas climáticas ambiciosas. O resultado é uma cobrança moral disfarçada de compromisso ambiental. Quem poluiu por dois séculos agora exige pureza ecológica de quem ainda nem se industrializou completamente.

Mas negar a urgência climática também é inviável. A PwC estima que o planeta precisa reduzir suas emissões em 17,2% ao ano até 2050 para limitar o aquecimento a 1,5°C, uma meta que nenhum país está cumprindo. O modelo de crescimento baseado em desperdício e extração ilimitada já não cabe num planeta finito. O colapso ambiental é também um colapso moral.

O Brasil precisa encontrar um caminho próprio, um modelo de desenvolvimento possível, não idealizado. Isso exige inovação, mas também uma mudança de mentalidade. A equação agora é mais complexa: precisamos nos desenvolver em um contexto em que o custo de errar é ambiental e o custo de acertar é financeiro. Progresso não é multiplicar PIB, é gerar riqueza sem empobrecer o solo, o ar e as pessoas.

O verdadeiro dilema da COP30, portanto, não é técnico, é filosófico: desenvolver é crescer ou é evoluir? Crescer é ampliar números. Evoluir é transformar consciências. E evoluir, neste caso, significa ter coragem de investir em ciência, educação e tecnologia, mesmo quando o retorno não é imediato.

Um país que destrói sua base natural para gerar renda não se desenvolve, apenas se esgota. Por outro lado, paralisar a economia em nome de um ideal ecológico inalcançável é outra forma de autodestruição. O equilíbrio está entre o idealismo ecológico e o pragmatismo econômico: um espaço de lucidez que o Brasil pode ocupar se enxergar sua biodiversidade não como fardo de preservação, mas como ativo estratégico do novo capitalismo verde.

Mas ocupar esse espaço exigirá coragem política, ou seja, a coragem de investir em conhecimento, inovação e educação de base, não apenas em discursos e eventos. Sem tecnologia e sem capital humano, não há transição possível.

A COP30 será um espelho. O Brasil se verá como realmente é: um país rico em recursos, mas pobre em meios para transformá-los de forma sustentável; um país que precisa de tecnologia, mas também de tempo; um país que ainda decide se quer apenas crescer ou, de fato, evoluir.

Talvez o verdadeiro desafio da COP30 não seja salvar o planeta, mas aprender a salvar o futuro sem destruir o presente.

*Pedro de Medeiros é filósofo formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, engenheiro mecânico pela PUC e pós-graduado em Gestão de Pessoas, consultor de multinacionais, palestrante e escritor.

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