Maternidade tardia no Brasil: aumento de filhos após os 40 anos e o papel do congelamento de óvulos

Dados do IBGE mostram mudança no perfil das mães e reforçam o papel da reprodução assistida no adiamento da gravidez

Matheus Freire
Número de mulheres que têm filhos após os 40 quase dobra no Brasil em 20 anos, aponta IBGE. Foto: Divulgação/Freepik

O número de mulheres que tiveram filhos após os 40 anos quase dobrou no Brasil nas últimas duas décadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em maio de 2025, mostram que, em 2003, foram registrados 57.832 nascimentos de mães nessa faixa etária, o equivalente a 2,1% do total. Em 2023, o número chegou a 109.170 nascimentos, representando 4,3% do total.

A tendência reflete mudanças sociais, maior participação feminina no mercado de trabalho e o avanço de tecnologias médicas que permitem adiar a maternidade, como o congelamento de óvulos. A técnica tem ganhado espaço como alternativa para mulheres que desejam preservar a fertilidade e decidir o melhor momento para engravidar.

O que é o congelamento de óvulos

O congelamento de óvulos, também chamado de criopreservação, consiste na coleta de óvulos maduros e no armazenamento em temperaturas extremamente baixas para uso futuro. O procedimento evoluiu nos últimos anos com a adoção da vitrificação, método que reduz a formação de cristais de gelo e aumenta a taxa de sobrevivência dos óvulos após o descongelamento.

Segundo análises publicadas no Physicians Weekly, os avanços laboratoriais tornaram o processo mais seguro e eficaz, o que contribuiu para a ampliação do uso da técnica em diversos países.

Qualidade dos óvulos é fator decisivo

A ginecologista Dra. Ana Maria Passos, especialista em saúde da mulher 40+, alerta que o preparo prévio é essencial para o sucesso do congelamento. “Não vale a pena congelar óvulos de qualquer jeito. É preciso se preparar como se fosse engravidar naquele momento. Deficiências nutricionais, desequilíbrios hormonais ou intoxicação por metais pesados podem comprometer a qualidade dos óvulos”, explica.

Custos e acesso ao procedimento

Apesar dos avanços, o congelamento de óvulos ainda tem custo elevado e acesso limitado no Brasil. Nos Estados Unidos, dados da American Society for Reproductive Medicine (ASRM), divulgados pelo Physicians Weekly, indicam que os valores variam entre US$ 10 mil e US$ 15 mil por ciclo, sem incluir as taxas anuais de armazenamento.

Riscos e limitações

Especialistas reforçam que o congelamento de óvulos não garante uma gestação futura. O procedimento envolve riscos associados à estimulação ovariana, como a síndrome de hiperestimulação, além da possibilidade de baixa qualidade dos óvulos coletados. A idade da mulher no momento da coleta e a saúde reprodutiva geral são fatores determinantes para o sucesso.

Avanços na reprodução assistida

Além da vitrificação, outras tecnologias, como a ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides) e melhorias no cultivo embrionário, contribuíram para o aumento das taxas de sucesso da reprodução assistida. Esses avanços mostram que o congelamento de óvulos faz parte de um conjunto mais amplo de soluções médicas voltadas à maternidade tardia.

Debate ético e social

O adiamento da maternidade também levanta discussões éticas e sociais. A ASRM destaca a importância de informações claras para evitar falsas expectativas sobre o procedimento. O tema envolve decisões individuais, responsabilidade médica e políticas de saúde pública.

O crescimento da maternidade após os 40 anos indica uma mudança consolidada no perfil das famílias brasileiras. Quando realizado com acompanhamento médico e informação de qualidade, o congelamento de óvulos pode ser uma ferramenta importante para ampliar as possibilidades reprodutivas das mulheres, sem abrir mão da saúde e da segurança.

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