Na linha de frente do aquecimento global: médicos adaptam a prática para enfrentar novos desafios na Amazônia

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Crise climática já impacta diretamente a saúde na Amazônia, tema que ganha força nos debates paralelos da COP30 em Belém.

A crise climática já não é uma ameaça distante. Na Amazônia, ela chegou com força: enchentes mais intensas, secas prolongadas, ondas de calor, avanço de doenças infecciosas e respiratórias. A saúde virou um dos campos mais atingidos e Belém vive esse debate de forma direta, nos eventos paralelos da COP30.


No ESG Summit Brazil, realizado na última quinta-feira (13), a pauta não foi apenas a descarbonização, mas como formar médicos capazes de atuar em regiões vulneráveis, remotas e culturalmente diversas. Um dos destaques foi a participação de Olívia Andreolli, coordenadora de Sustentabilidade da Afya, instituição com forte presença na Amazônia, realizando ações com comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas.
“Falar de clima e saúde na Amazônia é falar de gente e território. É falar de crianças que sofrem mais com doenças respiratórias, de comunidades isoladas enfrentando surtos agravados pelo calor extremo ou pelas enchentes ou secas, de doenças ressurgindo ou se tornando endêmicas devido à proliferação de vetores, e de médicos que precisam estar preparados para esse cenário. A Afya tem esse compromisso de formar profissionais sensíveis a essas realidades territoriais e culturais, e apostar em um futuro mais justo e saudável para essas populações”, afirmou Olívia.

A coordenadora destacou a preparação dos médicos da pós-graduação, em Belém, para atender povos indígenas que não falavam português e não permitiam contato físico imediato nos exames infantis. Protocolos adaptados a essas questões culturais precisaram ser criados, não como exceção, mas como parte da prática médica.


“Às vezes, o remédio vem junto com a paciência de quem senta no chão, observa o tempo da criança, conversa com a mãe, aprende com a pajé, observa o comportamento, ouve suas histórias de vida. Saber ouvir também está dentro da formação médica”, explicou Fagner Carvalho, médico ribeirinho, infectologista e professor da instituição de ensino superior., em Abaetetuba.


Fagner participou da roda de conversa “Saúde e Clima: o que vem depois da COP30?”, na Cas’Amazônia, na última sexta-feira (14). Ele levou para o bate-papo sua vivência que vai além dos consultórios. O docente ressaltou os desafios de trabalhar na Amazônia, onde ele e sua equipe percorrem longas distâncias de barco, sob chuva ou sob sol, para alcançar comunidades que já vivenciam, na rotina, os efeitos das mudanças climáticas.

“Os fármacos são fundamentais, salvam vidas. Mas a gente não pode ignorar o saber de quem vive aqui há séculos. Medicina e ancestralidade não são forças opostas. São complementares e precisam caminhar lado a lado”, afirmou.
E brincou, com algo que parece metáfora, mas não é: “No futuro, médico vai precisar saber que atender na Amazônia também significa respeitar a sombra e a redinha de repouso”.

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